Arlindo Cruz Morre aos 66 anos
- Jornalismo
- 8 de ago.
- 3 min de leitura
O cantor estava internado tratando uma pneumonia

Morreu, aos 66 anos, o cantor e compositor Arlindo Cruz, um dos maiores nomes
do samba brasileiro. Ícone do pagode carioca, Arlindo estava internado desde
maio no Hospital Barra D’Or, no Rio de Janeiro, tratando uma pneumonia. Sua luta,
porém, começou muito antes, em março de 2017, quando sofreu um Acidente
Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico que o afastou dos palcos e marcou sua
trajetória nos últimos anos de vida.
Desde então, o artista enfrentou uma dura rotina de reabilitação, com momentos
delicados, como infecções respiratórias recorrentes, internações prolongadas e,
mais recentemente, uma parada cardíaca em julho que agravou seu estado de
saúde. A notícia de sua morte foi confirmada por familiares nas redes sociais,
gerando uma onda de comoção e homenagens de músicos, fãs e figuras públicas
que exaltaram sua contribuição inestimável à cultura brasileira.
Além do lamento pela perda de um artista tão completo — cantor, compositor e
mestre do cavaquinho — sua morte reacende o debate sobre os impactos do AVC,
uma das principais causas de morte e incapacidade no Brasil e no mundo. Para
compreender melhor as dimensões desse problema de saúde pública,
conversamos com a neurologista Dra. Sheila Martins, presidente da Rede Brasil
AVC e uma das maiores especialistas no tema no país.
De acordo com a médica, os fatores que levam a um AVC ainda são, em grande
parte, evitáveis. “Mais de 90% dos casos de AVC estão associados a fatores de
risco modificáveis, como hipertensão arterial, sedentarismo, tabagismo, diabetes
e colesterol alto. O AVC não acontece por acaso — ele é o resultado acumulado
de hábitos e condições que podem e devem ser controlados”, afirma.
No caso de Arlindo Cruz, embora os detalhes médicos completos não tenham
sido divulgados, o tipo hemorrágico do AVC costuma estar ligado a picos de
pressão arterial e a vasos frágeis no cérebro. Segundo a Dra. Sheila,
“o AVC hemorrágico, embora menos comum que o isquêmico, tende a ser mais
grave. Ele ocorre quando há o rompimento de um vaso sanguíneo, levando a um
sangramento cerebral que pode provocar sequelas severas ou levar à morte”.
Apesar da gravidade, o avanço da medicina tem possibilitado formas mais
eficazes de tratar o AVC — desde que o atendimento seja rápido.
“Tempo é cérebro. A cada minuto sem atendimento, milhares de neurônios são
perdidos. Por isso, o reconhecimento precoce dos sinais — como paralisia facial,
dificuldade na fala e fraqueza em um dos lados do corpo — é fundamental.
Quanto mais rápido a pessoa for levada a um hospital preparado, maiores as
chances de recuperação”, alerta.
Arlindo Cruz, mesmo após o episódio de 2017, teve uma reabilitação
impressionante para um caso tão severo. Com apoio da família, de profissionais
de saúde e de terapias contínuas, chegou a aparecer em vídeos cantando e
interagindo com fãs. A Dra. Sheila destaca que a recuperação após um AVC é
possível, especialmente quando há suporte adequado e dedicação. “A
reabilitação é um processo longo e exige paciência. Mas com estímulo certo,
fisioterapia, fonoaudiologia e apoio emocional, muitos pacientes voltam a ter
qualidade de vida. A história do Arlindo é também uma história de resistência”,
diz.
Arlindo Cruz deixa um legado que vai muito além das rodas de samba. São mais
de 500 composições registradas, parcerias históricas, clássicos como “O Show
Tem Que Continuar”, “Meu Lugar” e “Ainda É Tempo Pra Ser Feliz”, e uma
trajetória marcada por alegria, sensibilidade e talento puro. Com sua morte, o
Brasil perde uma de suas vozes mais autênticas — e ganha uma oportunidade
para reforçar a importância de cuidar da saúde cerebral e lutar contra o AVC com
informação, prevenção e empatia.
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